sábado, outubro 15

A gripe das aves

Diz-se que vão morrer pessoas. Circulam notícias sobre a detecção de aves (em especial patos) infectadas quer na Roménia quer na Turquia. Na Europa, os responsáveis pela saúde pública tomam medidas e desdobram-se em entrevistas sobre o assunto. Ouve falar-se deste e daquele medicamento que pode ser uma solução e, depois, já não é. Os laboratórios, por todo o mundo, fazem esforços para identificar a forma de combater o vírus. Há, realmente, um alerta geral e um geral pedido para não se gerar o pânico. Recorda-se, nos jornais, o que foi, em 1918, a chamada gripe espanhola que matou, sem recurso, famílias.
Em Portugal, depois das eleições, continua a reinar a maior calma olímpica de sempre. Gastaram-se milhares, milhões, a fazer propaganda a este e àquele candidato, a imprimir folhetos para distribuir porta a porta convidando-nos a escolher um em desfavor de outro e não se gastam uns cêntimos a imprimir uma folha volante para entregar nas ruas, nas escolas, nos centros comerciais, nas aldeias, nas juntas de freguesia, nos lugarejos isolados, nos pequenos estabelecimentos perdidos nos montes e nas planuras, nos barbeiros, nos bancos, que seja lida até ao vómito nas rádios, nas televisões, explicando como se deve evitar o contágio, como se identificam os primeiros sintomas, que número de telefone se pode ligar para obter as primeiras indicações, quais os cuidados a ter, a higiene apropriada, os primeiros medicamentos a tomar, os alimentos a não comer.
Não se faz absolutamente nada!
Dá-se tempo de antena televisiva a um autarca que, por ter ganho as eleições lá na sua santa terrinha, vai a pé, com os jovens do lugar, a Fátima, agradecer à Virgem! Deuses, em que país estamos nós! Em que século vivemos!?
O poder político está mais preocupado com o orçamento do que com a saúde e o bem-estar públicos. Será que, por uma qualquer crença no Mafarrico, os senhores de S. Bento estão convencidos que a gripe das aves vai resolver o problema do deficit orçamental e dos sistemas de pensão, matando os velhos e os desnecessários na função pública, eventualmente, até, os desempregados? Será? Naturalmente que não posso acreditar e só o digo com uma ponta de ironia amarga, corrosiva, provocatória. Mas, não tenho dúvidas e não sou irónico, quando aceito que se está a admitir a possibilidade de usar a grande solução nacional: o improviso!
A tempo, tomem-se medidas, divulguem-se cuidados, assuma-se uma atitude responsável perante a catástrofe anunciada. É o mínimo que podemos e devemos exigir dos poderes públicos. Digam-nos o que fazer e não fazer... Não fazer nada é que não pode ser! Ou será que deve ser?