terça-feira, setembro 20

A primeira legislatura deste Governo Socialista

Quem ouvir falar o Primeiro Ministro, o Dr. Luís Amado, o ministro das Finanças, da Economia e todos os outros, incluindo a ministra da Educação, ficará convencido (será que fica?) de que este Governo tem uma estratégia bem definida para resolver a situação económica e financeira portuguesa. Tudo parece articulado, e bem articulado. Mas experimentemos olhar para as acções... Aí percebemos que há um desfasamento significativo entre o discurso e os actos. Continuam as colocações em bons cargos por claro compadrio, os desacertos entre os números anunciados e os apurados por especialistas, enfim, a desordem. E tudo isto é assim, na minha opinião de cidadão livre e, julgo, informado, por um único motivo: estão-se a alterar todas as «regras do jogo» a meio do mesmo «jogo». Quer dizer, quando o «jogador» julga que marcou pontos positivos por ter alcançado o alvo, dizem-lhe que, afinal, o dito alvo já não estava no local suposto. Vejamos.
O incauto cidadão funcionário público julgava que só precisava de determinado número de anos de serviço para adquirir o direito à pensão de reforma. Enganou-se. Tem de trabalhar mais anos. As forças de segurança, os militares, os magistrados julgavam que tinham, em consequência das suas actividades, um determinado sistema de segurança na saúde. Enganaram-se. Passaram a estar integrados noutro ou num com as regras de outro. Os professores do ensino secundário julgavam que o sistema de concurso e colocação nas escolas ia ser igual ao dos anos anteriores. Enganaram-se. No próximo ano vai ser outro. Os trabalhadores independentes julgavam que a taxa de contribuição para a segurança social ia manter-se nos valores que vinham do antecedente. Enganaram-se. Foi aumentada. Os Portugueses acreditaram que o valor do IRS não subiria. Enganaram-se. Foi logo a primeira coisa que o Governo fez. Enfim, basta de procurar mais exemplos para provar a veracidade da minha afirmação.
Em face do exposto, admito, os sentimentos que surgem são, tão simplesmente, estes: ou se sai do «jogo», ou se deixa de «jogar» (o que não é o mesmo que sair), ou se arredam os «donos do jogo». E isto, pergunto eu, porque se está contra as reformas necessárias para fazer Portugal sair da crise em que os sucessivos Governos, desde o «tempo das vacas gordas», nos lançaram? Não. É mais elementar do que esse raciocínio simplista... Porque devia-se começar «novo jogo» enquanto se deixavam extinguir os «jogadores» do «velho jogo»! Assim era correcto para toda a gente; assim era justo para todos; de contrário é incorrecto e injusto.
A prova (se mais fossem precisas!) foi nos dada há bem poucos dias quando, para cumprir uma promessa eleitoral (que dá jeito manter e levar por diante neste tempo de mudanças conturbadas e imponderadas), o Presidente da Assembleia da República aprovou a alteração de uma regra que vinha sendo cumprida há mais de vinte anos. Refiro-me ao caso da duração da primeira legislatura deste parlamento. Tendo começado em Fevereiro de 2005 deveria acabar, segundo a regra do Direito consuetudinário imposta pela prática passada, em Setembro de 2006. Não, acabou em Setembro corrente! Mais uma regra de «jogo» alterada a bel-prazer dos «donos do jogo»!
O mais grave de toda esta situação é que os governantes, os responsáveis, os «donos do jogo» querem convencer-nos da lógica deste comportamento ilógico e obtuso.
Já vivemos, há vários anos atrás, a «arrogância do cavaquismo» (é bom não nos esquecermos disso!), será que vamos agora começar a viver a «arrogância do socratismo»? Será esta «arrogância» a forma prática de desenvolver a «dúvida socrática»? Se assim for, valha-nos um deus, seja ele qual for!