segunda-feira, setembro 26

As medidas sociais dos socialistas de Sócrates

Antigamente, eram as obrigações de serviço que me impunham a alvorada bem cedo; agora é a idade. Se fico deitado mais do que umas escassas seis horas acordo com dores no corpo. Salto da cama e venho para o computador ler a correspondência (electrónica) que chegou, dar uma vista de olhos pelos títulos dos jornais portugueses e estrangeiros e, depois, quando já é intenso o movimento sobre a ponte Vasco da Gama (porque da minha janela vejo uma parte do rio e a ponte!), começo a escrever. Escrever ou para os meus blogs ou para as associações que me pedem colaboração nos seus boletins ou fazendo apontamentos para trabalhos mais profundos a publicar mais tarde... não sei quando. Também não me preocupo muito com isso.
Depois da crise militar (ou com os militares) que parece já ter passado (mas, realmente, não passou), ainda em cima do conflito com o pessoal beneficiário do sistema de assistência sócio-sanitária dos magistrados e funcionários judiciais, vêem a lume as notícias dos cortes dos subsídios sobre o preço dos medicamentos. É um vendaval arrasador que está a cair sobre o nosso país. As medidas anti-sociais parecem ser disparadas pela «arma» empunhada por qualquer partido do espectro da ultra direita!
Pergunto-me, no silêncio da vista da minha janela, se o Governo que elegemos é, realmente, socialista? São tão paradoxais as soluções políticas que encontra que, de certeza, ou estamos a viver um sonho colectivo ou «eles» não são socialistas. Na verdade, podem sê-lo! Mas sofreram qualquer traumatismo craniano que lhes modificou, em absoluto, a maneira de pensar. Só assim se explicam as disposições legais impostas ao país.
Sabemos que há pessoas, milhares de pessoas, que vivem em Portugal (estou a dizer EM PORTUGAL) com rendimentos abaixo do limiar da pobreza. Da pobreza portuguesa; não estou a falar da pobreza de outros países europeus! São velhos, às vezes sem família a quem pedir ajuda financeira, carenciados de tomarem medicamentos com um custo elevado. Tão caros que só lhes restam duas opções: ou comem e não se tratam ou se tratam e não comem. Mas o curioso é que, até há pouco, os idosos portadores de certas doenças e com falta de recursos monetários, recebiam gratuitamente os remédios de que dependem. Agora têm de pagar 5%. Mas cinco por cento de quem só tem para viver num mês inteiro menos de 300 euros é uma fortuna! E se estes medicamentos, até agora, eram fornecidos gratuitamente não é por serem baratos! É por serem muito caros. E 5% de muito caro, para quem tem muito pouco, é muito caro ainda!
Às vezes dou comigo a pensar: será que Sócrates pretende meter a maioria dos Portugueses numa espécie de campo de campo de concentração sem guardas nem redes de arame farpado de modo a conseguir efectuar uma «limpeza», não de carácter étnico, mas de carácter económico, de modo a sobreviverem os mais vigaristas e (não sei se consequentemente) os mais ricos? Será?
Só assim se justificaria a TRAIÇÃO socialista a ideais de solidariedade social para com os mais pobres e desprotegidos. Afasto estes pensamentos por os julgar vindos de qualquer parte desconhecida do meu cérebro onde guardo as câmaras de horrores; onde guardo, se calhar, a visão infantil do Inferno e do Demónio. Faltarão, a Sócrates, uns corninhos na testa e uma cauda com a ponta em forma de seta? Estou a delirar! Isto não se pensa de um Primeiro Ministro e, muito menos, se ele for socialista! São as tentações de Belzebu, de que me falavam os padres na catequese, quando eu ia, de calções, à igreja de Nossa Senhora dos Anjos, em Lisboa, aprender a conformar-me com o destino, com a miséria, com a doença, porque tudo era resultado da santa vontade de Deus Nosso Senhor.
O Sr. Dr. António de Oliveira Salazar também era governante por vontade de Nosso Senhor e, também, nos obrigava a termos paciência e a viver a nossa pequena riqueza (que para muitos era uma grande miséria) visto que tinha vindo, providencialmente, livrar-nos da Liberdade e da Democracia que os republicanos, em 5 de Outubro de 1910, nos haviam imposto, desligando-nos da Santa Madre Igreja. Eram muito diligentes as catequistas e os senhores padres da igreja dos Anjos!
Há tempos vi um mendigo, andrajoso, em plena luz do dia, na rua Camilo Castelo Branco, junto à praça Marquês de Pombal, a rebuscar nos caixotes do lixo de um restaurante que por ali existe, comendo restos de comida apanhados com as mãos negras e levados à boca com sofreguidão.
Já tinha visto noutras alturas espectáculo semelhante e lá me vem sempre à lembrança a igreja de Nossa Senhora dos Anjos, em Lisboa, porque, do lado de lá da avenida Almirante Reis (um dos tais republicanos contra quem tanto apostrofava Salazar, mas que já toda a gente esqueceu!) havia um edifício (que ainda existe) onde os pobres, em fila ordeira e paciente, esperavam, de lata na mão, a sua vez de receberem uma sopa e um naco de pão de enésima categoria. Chamávamos-lhe mesmo «A Sopa dos Pobres». Nesse tempo de não Democracia e de não Liberdade os pobres não andavam a comer dos caixotes (pelo menos nós não os víamos... Talvez não os deixassem chafurdar nos restos dos ricos ou, talvez, porque ainda não havia caixotes do lixo em Lisboa).
Pondo de lado a ironia, será que, quando já começo a estar velho, este Portugal se está a parecer com o da minha infância ou trata-se de mero pessimismo da minha parte?
Senhor Engenheiro, Senhor Engenheiro, veja por onde vai!!!!